segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Num inédito fim de tarde, eu me encontro só. Como nunca antes tinha estado tão acompanhada de mim, experimento sensações absurdamente novas, como a de ser acompanhada somente pelo mar, as pedras e o vento. Sinto vontade de tocar a areia; tenho medo do que me pode acontecer sozinha. Depois, pergunto-me: Que propósito tenho eu, ao escrever sobre minha solidão? Talvez eu queira registrar, somente. Mas, concluo que escrever nesse momento é a forma que encontro de suprir a necessidade de falar; é o jeito que dou pra conversar, nem que seja comigo mesma, através do que escrevo.
Sinto o arder do sol na minha pele, e o encaro de volta como se o sol também pudesse sentir o calor do meu corpo, da minha alma e do meu amor. Busco poesia no que estou vivendo, embora saiba que há poesia em tudo mesmo. O fato de nunca ter aproveitado meu silêncio passa a apavorar-me quase tanto quanto o pensamento de que estou vulnerável por estar só.
Não penso, escrevo. E tenho consciência que o faço desconectadamente.
Penso que o sol nunca deixa de arder: mesmo só, num dia frio; no norte, no sul; na noite; na serra. O sol ainda arde, até com chuva. A diferença está em como o vemos ou deixamos de ver, mesmo que ele ainda esteja lá ardendo. Porque diabos estou falando do sol? Eu quero falar de mim, dessa minha solidão momentânea, e até certo ponto, inexplicável.
Tento avaliar meus sentimentos. Sei que tenho necessidade de amar e que é por isso que questiono minha escolha de manter-me só. No entanto, tem sido prazeroso e produtivo esse fim de tarde no qual desfruto de minha própria companhia. E assim tem sido, por ser absolutamente novo pra mim o fato de eu conseguir me manter aqui sem maiores pavores, embora o medo marque presença em alguns momentos. Acho que nunca antes eu soube administrar tão bem os vazios da solidão. O que será que mudou agora?
A convicção de que sou uma alma livre, um espírito solto, me faz crer que vim ao mundo pra trazer esse conflito aos outros espíritos, aos espíritos ainda presos e enraizados. Mas, eu própria sinto necessidade de criar algumas raízes, desde que elas tenham limites bem definidos. Então me questiono se não estou cedendo demais ao mundo, a ponto de negar a própria natureza de meu espírito.
O sol passa a arder demais e eu me mudo até a sombra da árvore mais próxima. Será que não foi esse o caminho que algumas pessoas fizeram na minha vida? Quando ardi demais, buscaram uma sombra. Passo a crer que foi exatamente isso que aconteceu com meus amores mais bonitos. Foram poucos de fato, dois ou três até hoje. Mas, foi exatamente nesses em que ardi como o sol, e fui trocada pela sombra, em que eu me descobri, em que eu pude ter certeza que sou sempre capaz de amar e arder. Nunca serei fria, tão pouco morna. Serei sempre o dia claro e quente de verão... Talvez com uma brisa leve de fim de tarde, pra refrescar sem perder calor; por vezes, com uma ventania pré-chuva, pra agitar, mas com a promessa de voltar a arder logo depois!
Canso-me por escrever coisas tão soltas e aleatórias. Percebo que desabafei comigo mesma e vejo o quanto sou uma boa ouvinte. Vou embora com apenas mais uma questão: Até quando conseguirei estar só, já que continuo a arder?

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