segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O problema de não estar apaixonada

O problema de não estar apaixonada é que todo mundo quer que você esteja. Há algum tipo de contrato social secreto que diz que você não pode estar solteiro e feliz. Não dá, entende? Você tem sempre que estar pegando alguém, ou querendo pegar alguém, ou sofrendo porque deixou de pegar alguém. A gente brinca que é só a tia chata, mas no fundo, no fundo, todo mundo te cobra: e aí, e o namoradinho?

O problema de não estar apaixonada é que quando seus amigos vão viajar e você passa o sábado à noite em casa, sozinha, você acaba pensando que você tem, sim, algum problema. Sei lá, veio com defeito. Afinal, depois de ouvir tanto que você não deveria estar solteira, você acaba se convencendo de que estar solteira é um problema. Viver em uma sociedade em que é melhor estar mal acompanhado a encarar o desafio de ser feliz sozinho acaba ferrando um pouco a sua cabeça.

Você está sozinha porque quer, eles dizem. Ou não dá chance. Ou fica em casa demais. Ou vai pra balada demais. Ou pega muitos caras na mesma noite. Tem sempre um motivo pra você estar sozinha, mas ninguém quer saber, de fato, a razão. Eles só querem mesmo é que você namore.

Ninguém tá nem aí se você não quer estar apaixonada. Ninguém tá nem aí se você tá bem. Ninguém tá nem aí se você quer, antes de qualquer coisa, conhecer o mundo, colocar seu futuro no eixo ou qualquer coisa assim. Ser independente antes de "depender" emocionalmente de alguém, sabe? Não estar apaixonado é tipo "não viver" para algumas pessoas.

O problema de não estar apaixonada é que ninguém acredita nisso. Daí insistem e, ao insistir, acabam te machucando. E aí você tenta se apaixonar. E aí você insiste em sentir uma falta que nem sente. Insiste em achar o cara ideal, insiste em procurar no outro o que você deveria encontrar em si mesmo. O problema de não estar apaixonada é que te cobram tanto que você acaba ficando em desespero. Daí não tem muito pra onde fugir, porque, desde que o mundo é mundo, o desespero em qualquer coisa na vida fode tudo. 

Entendeu?

Sem querer

Tinha de ser daquele jeito? No meio de uma balada que eu fui só por ir, sem make pesada, sem paetê na roupa? Você viu o que quando olhou pra mim? A sapatilha sem graça? O batom clarinho? Alguma coisa te fez atravessar a pista e tentar, e não foi o meu sorriso, aposto.

A conversa gritada ao pé do ouvido não foi legal, me fazendo supor que como qualquer pessoa naquele lugar, você queria curtir. Previsível. Eu entrei na sua, dancei no seu ritmo e me deixei levar. Um beijo, dois beijos, três beijos. Ok, tira essa mão daí! (Eu não bebi o suficiente pra perder a dignidade). Piadas toscas, propostas ridículas. Telefone? Claro, passo sim. Hoje em dia isso nem é tão pessoal, ninguém liga mesmo. Que diferença faz?

A diferença é que era você. Com todo a pompa de alguém educado que perde a linha de vez em quando, se arrepende e tem a decência de querer se redimir. 

E cê tinha que me ligar no dia seguinte. Desrespeitar o protocolo. Fazer convites irrecusáveis. Insistir. Cê tinha que ser legal, desfazer a primeira impressão e me deixar confusa. Cê tinha que ser diferente quando tudo o que eu queria era um cara igualzinho aos outros, pra suprir a carência e ir embora sem pedir ou dar explicação. Só pra fazer um carinho e ir embora. Custava ser assim? Não, cê tinha que querer ficar. E ir ficando.

Mas tudo bem, se você quer quebrar as regras e se apaixonar por uma garota insegura que conheceu na noite, acreditar nisso por sei lá qual motivo, pensar realmente que vai dar certo...Ora quem sou eu pra duvidar? Na verdade sua fé me comove, num tanto que eu fico pensando se eu dormi em alguma parte da historia e não tô vendo o que você tá vendo na gente.

Vê se me entende. Você me pegou desprevenida, de repente, no susto. Eu tô acostumada a levar rasteira, não lido bem com essas surpresas que parecem fazer cócegas no coração. Não me impede de gostar, mesmo não entendendo e desconfiando disso.

Mas ó, tem paciência comigo, desiste não. Eu tô engatinhando ainda, não cresci o suficiente pra saber amar desse jeito real que você tá pedindo. Aceitar alguém que chega da maneira mais improvável na minha vida, que vai se aconchegando e fazendo morada. É esquisito. Você me ensina como eu faço

Continua Girando

Olha, eu não queria falar nada, mas ainda há vida lá fora. E ainda que também haja colo, sempre que precisar, é preciso de si próprio para sacudir a poeira de vez em quando. Ferida de amor dói, ô se dói, algumas marcam pra sempre, algumas nunca passam, algumas doem mais que qualquer outra dor, mas ó: ó a vida passando, entre uma lágrima e outra, entre a indecisão de ficar aqui, seguro, ao lado dos próprios cacos, e ir. Sabe? Ir. Sabe-se lá Deus para aonde.

Superar amor envelhecido, remoído e maltratado é sempre uma tarefa mais nossa do que do mundo. Porque as horas ainda passam, ainda há dias de sol e de chuva (talvez nem tanto em São Paulo, mas há), ainda há nuvens pretas, e frio, e calor, e a primavera chegando. O mundo tá ali, fazendo a parte dele, cumprindo a tabela, esperando só a hora de você levantar e decidir fazer alguma coisa da vida. O despertador toca toda manhã numa pergunta sem fim: e aí, é agora que você vai cansar de ser infeliz?

Na teoria, sempre fácil. Mas é que dor emocional é coisa só nossa. Não tem merthiolate que dê jeito. No máximo, a gente arranja essas pessoas-curativo, que sempre parecem ser a solução de todos os problemas. Nada-como-um-amor-novo-para-superar-o-antigo, costumam dizer. E a gente esquece que band-aid arrancado da pele na pressa faz lembrar a dor do corte. Atrasa o processo de cicatrização. E não sara. Não passa. Cadê a cura?

Se a gente soubesse a fórmula de não se magoar por amor, talvez a gente também já tivesse inventado a vacina. E viveríamos assim: sem caras quebradas, mas também sem grandes paixões. Porque amor, no fim das contas, é processo de entrega. E se entregar é correr sempre o risco de cair no caminho. Quebrar. Chegar atrasado ao destinatário. Pior: correr o risco de ser devolvido ou trocado sem nenhuma consideração. 

Ou então correr o risco de receber, também, algo de bom em troca. Talvez, sei lá, um presente como um coração - pronto pra tudo.

Tudo isso pra te falar que: a maioria de nós, mortais, passa por isso. E tem choro, e tem grito, e desespero, e vontade de nunca-nunca-nunca-nunca-mais. Mas ainda há vida lá fora. Outras histórias. Outros porres. Outros amores. E dezenas de amigos. E gente que sabe, talvez só um pouco, o quanto dói por aí. E se ainda doer também por aqui, não tem problema: a gente sofre junto. Porque, como ouvi uma vez (em um contexto completamente diferente): na desgraça, a gente se abraça. 

E o mundo continua girando. 

Ontem conheci um rapaz

Ontem conheci um rapaz. Ele me olhava e eu ficava corada. Eu nunca mais tinha me sentido assim. Quando você foi embora, de alguma forma, uma parte de mim resolveu ir junto. Alguns podem até achar loucura, mas é verdade. Antes de você, eu gostava de rosa, domingos e dias de chuva. Vivia na praia, não reclamava do emprego chato e não me importava em não trabalhar. Tinha mais tempo para hidratar o cabelo, ler livros e escrever um.

Agora, nunca mais Taylor Swift na playlist. Nada de paixão por frituras e parei de escrever cartas (por falar nelas, joguei as suas fora). Você destruiu a minha vontade de acreditar no amor e eu não sei por que ainda acredito em você.

Eu disse que ia parar de falar de você, mas talvez eu tenha exagerado um pouco. Nem minha avó aguenta mais. Mas você também fez algumas promessas e não cumpriu. Ia ser diferente, lembra? No fim, você foi igual aos outros, não durou nem noventa dias.

Nós dávamos certo, mas você sempre foi o errado. E você sabe como eu odeio cometer erros. Talvez você se arrependa um dia como eu me arrependi. Quem sabe um dia você pegue o telefone e me procure só pra dizer que foi a maior besteira que já fez na vida. Talvez eu dissesse que você foi meu pior erro, mas eu cometeria de novo se pudesse.

Nem sei por que ainda dói tanto. Olha aquele rapaz tagarelando e eu apenas dando respostas curtas. Até quando vai ser assim? Não é justo eu ficar com o peso maior. Não é justo só eu ter o coração partido. Talvez eu deva começar a seguir em frente, não é? 

O rapaz continuou falando e, então, eu resolvi sorrir por alguns instantes para dar uma chance para a vida. E, em alguns milésimos de segundo, a imagem de nós dois, ou melhor, de você, sumiu. E esse foi o melhor instante do meu dia.
Pergunte ao meu vizinho. Ele escutou uma porrada de músicas melancólicas nas últimas semanas. Até estranhei que não tenha ligado para saber se tudo estava bem – ele fez isto uma vez. Acho que agora simplesmente se acostumou e ignorou minha depressão momentânea. Uma hora passa, ele pensou. E escutou uma porrada de músicas, uns dramas, choro, muitos gritos, cada coisa triste. A cena é sempre dramática – às vezes, quase patética – quando se trata de corações partidos por aqui. 

Pergunte aos meus amigos. Eles ouviram, coitados, cada lamento, cada história, cada reclamação. Eles respiraram fundo e tiveram paciência enquanto você escapava de mim. Eles seguraram a barra quando cê cansou de brincar de casinha e resolveu que qualquer merda era melhor que nós dois. Pergunte a quem ficou quando você foi. A quem aguentou quando você largou o peso e deixou todos os restos acumulados nos meus ombros. Pergunte a quem prometeu, mas não deixou de cumprir.

Pergunte aos meus pais. Lembra-se deles? Te amaram logo de cara. Pergunte a eles como foi abrir a porta de casa às 3 horas da manhã de uma terça-feira e me ver ali, com as malas, os cachorros e o rabo entre as pernas. Cê acha que não doeu neles, quase mais do que em mim, me ver ali, com o coração partido inteirinho? 

Pergunte aos meus textos, que cansaram de falar sobre você. E sobre seu cabelo. E sua covinha ridícula. E sobre as declarações que você fez quando ainda não tinha cansado de mim. Pergunte aos poemas que eu fiz sobre nós dois. E aos livros inacabados em que você era sempre o personagem principal. 

Pergunte a todos eles como foi. 

Pergunte aos meus silêncios. Às minhas lágrimas. Ao tempo em que eu demorei pra limpar a porcaria da poeira que cê deixou soterrada na minha vida. Pergunte aos dias em que não tive força pra nada e às noites em que eu tive tanta força que quis quebrar tudo.

E pergunte a ele: ao coitado, ao maltratado, do meu coração. Rebobine a fita e tente imaginar o que a gente passou. Imagine os filmes, imagine os choros, imagine as músicas, imagine as bebedeiras e as ressacas que você deixou. 

Imagine se ainda tem espaço aqui.

E aí, quando ousar pensar que você pode voltar....talvez você nem precise mais perguntar.

SOBRE MIM

Não gosto de escrever autobiografias. Nunca sei o que falar, como me apresentar, o que é interessante dizer. Normalmente, para ter alguma ideia, olho o perfil de outras pessoas em outros sites, blogs, jornais. Gente sempre muitíssimo interessante. Ótimos profissionais, inovadores, empreendedores, criativos. Galera de sucesso mesmo. E aí penso no que eu deveria colocar na minha autobiografia. E travo.


Apresentar-se aos leitores é mais ou menos como se apresentar para um pretendente. Você não quer que, de cara, ele já saiba todos os seus defeitos. Aquelas manias chatas ou os motivos pelos quais você acabou aquele seu último namoro. Melhor falar das coisas legais que você já fez: as viagens fascinantes, os prêmios que ganhou durante a faculdade, os cursos que concluiu. Deixa para depois as neuras, as inseguranças, as chatices de domingo à tarde.

Para você me admirar, te conto minhas vitórias. Os meus pódios, as minhas medalhas. As cicatrizes escondo com a maquiagem importada que trouxe de Paris. E com os sorrisos que aprendi a dar nas aulas de teatro. O suor que escorre do meu rosto todos os dias, enxugo correndo para você não notar. Fica aí achando que minha vida é fácil, leve e divertida o tempo inteiro.

Acredite também que eu sou a melhor profissional da minha área. Sou eu que tenho as ideias mais legais, os projetos mais sensacionais e as sacadas mais interessantes. Não fiquei rica ainda, é claro, porque o mundo não enxergou todo o meu potencial.

Basicamente, escrever uma autobiografia é quase sempre ressaltar o nosso melhor. Coisa que, como você pode ver, eu não fiz por aqui. Enrolei, enrolei e não falei porcaria nenhuma. Mas pelo menos você já ficou sabendo duas coisas sobre mim: não me exponho fácil e escrevo sobre tudo. Às vezes até sobre o nada.

A história do fim de uma amizade.



Você sentiu falta. Ligou, procurou, correu atrás. É estranho que isso tenha acontecido depois de tanto tempo. É estranho que tenha acontecido quando a alegria acabou, o namoro acabou, aquela sua maré ótima acabou. É estranho que você tenha buscado o colo e não a comemoração. Você sentiu falta, e eu queria que isso tivesse acontecido antes. Sentiu falta, e eu queria que eu voltasse a me importar com isso. 

Você veio, me abraçou, e teve um abismo enorme entre nossos dois corpos. A gente não soube o que falar, não soube até onde podia ir uma com a outra, não soube que novidades contar, não soube nada. Rimos aqui, ali, falamos aquele superficial que falamos com uma colega qualquer e depois nos perdemos em um silêncio que durou minutos, mas pareceu durar uma vida. 

Durou uma vida. Nossa amizade, tantos anos de risadas, de abraços, de choros, de lágrimas. E por isso é quase desumano soltar a mão de alguém que esteve com a mão entrelaçada na minha durante todo esse tempo. Mas acredito que nos prender assim na obrigação de uma amizade é pior do que nos guardar em uma história bonita para contar para os filhos.

É quase como aquela história de fim de namoro: melhor acabar aqui, enquanto a gente ainda consegue olhar uma para a outra e lembrar só dos momentos bons, do que ficar se perdendo em um desgaste que no fim só vai nos afastar mais ainda. Quero lembrar de você com um sorriso no rosto, por isso me afasto e te deixo se afastar. Numa boa, que a gente vire história e recordação. 

Quis muito que o abraço fosse o mesmo, as conversas fossem as mesmas, a amizade fosse a mesma e o carinho fosse o mesmo. Mas não foi. Desculpa, sério mesmo, me perdoa. Me perdi em algum lugar, em alguma esquina que tive que virar enquanto você parou em uma rua qualquer, porque começou a percorrer outro caminho em que não precisava da minha companhia. Enquanto continuei andando, encontrando outras pessoas, entrando em novas casas, você quis percorrer ruas completamente diferentes da minha e, no fim, acabamos muito distantes uma da outra. 

Não sei fazer o caminho de volta, não sei em que esquina entro para fazer o retorno, não marquei o caminho como João e Maria para que você pudesse saber para que lado eu ia. E também não quero voltar e ver que em algum momento a gente não vai virar para o mesmo lado de novo. 

Acho que é isso e tudo bem. É triste e tudo bem. Doeu e tudo bem.

Entendo que agora você sinta falta. Que agora me ache estranha. Que te doa essa minha quase indiferença. Entendo que você acreditou que eu estaria de braços abertos esperando o momento em que você se cansasse de brincar de casinha perfeita e viesse correndo viver todas aquelas coisas que dizia que queria viver. Entendo que você acreditou que eu estaria aqui, como todas as outras vezes, quando você entrasse em sua crise existencial. Entendo que você confiou no meu amor incondicional e bobo, que esteve aqui assim durante tantos anos. Entendo que você achou que podia preencher sua vida com tantas outras coisas e pessoas e me jogar para escanteio pelo simples fato de que eu entenderia. Porque eu sempre entendi.

E continuo entendendo tudo, sem raiva nenhuma, sem grandes decepções, sem te culpar de nada, sem te julgar e crucificar. 

Mas entender não quer dizer que tudo o que você esperava aconteceu. Fiquei estranha porque mudei, entrei em outras casas, conheci outras pessoas. A indiferença veio porque tive que me apoiar em outras pessoas quando caí e levantei. Porque dei braços e abraços que você não reconheceu e nem quis. Fechei os braços que durante tanto tempo ficaram abertos e dei as costas, numa tentativa de achar minhas próprias casinhas perfeitas para brincar, e achei. Não estive ali como das outras vezes quando depois de tanto tempo você resolveu correr ao meu encontro. Nem ouvi sua crise existencial, porque eu sabia que quando acabasse e você ficasse bem, você viraria as costas de novo. E deixei de me doar de modo incondicional e bobo, porque não tive isso em troca. 

E não entendi ser jogada para escanteio porque você resolveu preencher sua vida com tantas outras coisas e tantas outras pessoas. Essa eu não entendi nem nunca entenderia. Mas desculpa.

Não fui perfeita e, por não ser perfeita, não volto atrás. Desisti mesmo, a ponto de te pedir que me deixe seguir meu próprio caminho, sem essa obrigação de ter que olhar para trás e ver se você vai estar lá. Acontece que não quero mais isso, não quero mais olhar para trás, abrir os braços e ver você dando a mão e os abraços para outras pessoas. Não quero entender sempre o seu lado e nunca, nunca, nunca fazer ninguém entender o meu. 

Acontece que me livrar dessa obrigação de amizade acabada me deixou leve. Desculpa, é feio falar isso, não é? Eu sei. Mas deixou.

Que a gente vire recordação agora.

E fim.