segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Pergunte ao meu vizinho. Ele escutou uma porrada de músicas melancólicas nas últimas semanas. Até estranhei que não tenha ligado para saber se tudo estava bem – ele fez isto uma vez. Acho que agora simplesmente se acostumou e ignorou minha depressão momentânea. Uma hora passa, ele pensou. E escutou uma porrada de músicas, uns dramas, choro, muitos gritos, cada coisa triste. A cena é sempre dramática – às vezes, quase patética – quando se trata de corações partidos por aqui. 

Pergunte aos meus amigos. Eles ouviram, coitados, cada lamento, cada história, cada reclamação. Eles respiraram fundo e tiveram paciência enquanto você escapava de mim. Eles seguraram a barra quando cê cansou de brincar de casinha e resolveu que qualquer merda era melhor que nós dois. Pergunte a quem ficou quando você foi. A quem aguentou quando você largou o peso e deixou todos os restos acumulados nos meus ombros. Pergunte a quem prometeu, mas não deixou de cumprir.

Pergunte aos meus pais. Lembra-se deles? Te amaram logo de cara. Pergunte a eles como foi abrir a porta de casa às 3 horas da manhã de uma terça-feira e me ver ali, com as malas, os cachorros e o rabo entre as pernas. Cê acha que não doeu neles, quase mais do que em mim, me ver ali, com o coração partido inteirinho? 

Pergunte aos meus textos, que cansaram de falar sobre você. E sobre seu cabelo. E sua covinha ridícula. E sobre as declarações que você fez quando ainda não tinha cansado de mim. Pergunte aos poemas que eu fiz sobre nós dois. E aos livros inacabados em que você era sempre o personagem principal. 

Pergunte a todos eles como foi. 

Pergunte aos meus silêncios. Às minhas lágrimas. Ao tempo em que eu demorei pra limpar a porcaria da poeira que cê deixou soterrada na minha vida. Pergunte aos dias em que não tive força pra nada e às noites em que eu tive tanta força que quis quebrar tudo.

E pergunte a ele: ao coitado, ao maltratado, do meu coração. Rebobine a fita e tente imaginar o que a gente passou. Imagine os filmes, imagine os choros, imagine as músicas, imagine as bebedeiras e as ressacas que você deixou. 

Imagine se ainda tem espaço aqui.

E aí, quando ousar pensar que você pode voltar....talvez você nem precise mais perguntar.

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