segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A história do fim de uma amizade.



Você sentiu falta. Ligou, procurou, correu atrás. É estranho que isso tenha acontecido depois de tanto tempo. É estranho que tenha acontecido quando a alegria acabou, o namoro acabou, aquela sua maré ótima acabou. É estranho que você tenha buscado o colo e não a comemoração. Você sentiu falta, e eu queria que isso tivesse acontecido antes. Sentiu falta, e eu queria que eu voltasse a me importar com isso. 

Você veio, me abraçou, e teve um abismo enorme entre nossos dois corpos. A gente não soube o que falar, não soube até onde podia ir uma com a outra, não soube que novidades contar, não soube nada. Rimos aqui, ali, falamos aquele superficial que falamos com uma colega qualquer e depois nos perdemos em um silêncio que durou minutos, mas pareceu durar uma vida. 

Durou uma vida. Nossa amizade, tantos anos de risadas, de abraços, de choros, de lágrimas. E por isso é quase desumano soltar a mão de alguém que esteve com a mão entrelaçada na minha durante todo esse tempo. Mas acredito que nos prender assim na obrigação de uma amizade é pior do que nos guardar em uma história bonita para contar para os filhos.

É quase como aquela história de fim de namoro: melhor acabar aqui, enquanto a gente ainda consegue olhar uma para a outra e lembrar só dos momentos bons, do que ficar se perdendo em um desgaste que no fim só vai nos afastar mais ainda. Quero lembrar de você com um sorriso no rosto, por isso me afasto e te deixo se afastar. Numa boa, que a gente vire história e recordação. 

Quis muito que o abraço fosse o mesmo, as conversas fossem as mesmas, a amizade fosse a mesma e o carinho fosse o mesmo. Mas não foi. Desculpa, sério mesmo, me perdoa. Me perdi em algum lugar, em alguma esquina que tive que virar enquanto você parou em uma rua qualquer, porque começou a percorrer outro caminho em que não precisava da minha companhia. Enquanto continuei andando, encontrando outras pessoas, entrando em novas casas, você quis percorrer ruas completamente diferentes da minha e, no fim, acabamos muito distantes uma da outra. 

Não sei fazer o caminho de volta, não sei em que esquina entro para fazer o retorno, não marquei o caminho como João e Maria para que você pudesse saber para que lado eu ia. E também não quero voltar e ver que em algum momento a gente não vai virar para o mesmo lado de novo. 

Acho que é isso e tudo bem. É triste e tudo bem. Doeu e tudo bem.

Entendo que agora você sinta falta. Que agora me ache estranha. Que te doa essa minha quase indiferença. Entendo que você acreditou que eu estaria de braços abertos esperando o momento em que você se cansasse de brincar de casinha perfeita e viesse correndo viver todas aquelas coisas que dizia que queria viver. Entendo que você acreditou que eu estaria aqui, como todas as outras vezes, quando você entrasse em sua crise existencial. Entendo que você confiou no meu amor incondicional e bobo, que esteve aqui assim durante tantos anos. Entendo que você achou que podia preencher sua vida com tantas outras coisas e pessoas e me jogar para escanteio pelo simples fato de que eu entenderia. Porque eu sempre entendi.

E continuo entendendo tudo, sem raiva nenhuma, sem grandes decepções, sem te culpar de nada, sem te julgar e crucificar. 

Mas entender não quer dizer que tudo o que você esperava aconteceu. Fiquei estranha porque mudei, entrei em outras casas, conheci outras pessoas. A indiferença veio porque tive que me apoiar em outras pessoas quando caí e levantei. Porque dei braços e abraços que você não reconheceu e nem quis. Fechei os braços que durante tanto tempo ficaram abertos e dei as costas, numa tentativa de achar minhas próprias casinhas perfeitas para brincar, e achei. Não estive ali como das outras vezes quando depois de tanto tempo você resolveu correr ao meu encontro. Nem ouvi sua crise existencial, porque eu sabia que quando acabasse e você ficasse bem, você viraria as costas de novo. E deixei de me doar de modo incondicional e bobo, porque não tive isso em troca. 

E não entendi ser jogada para escanteio porque você resolveu preencher sua vida com tantas outras coisas e tantas outras pessoas. Essa eu não entendi nem nunca entenderia. Mas desculpa.

Não fui perfeita e, por não ser perfeita, não volto atrás. Desisti mesmo, a ponto de te pedir que me deixe seguir meu próprio caminho, sem essa obrigação de ter que olhar para trás e ver se você vai estar lá. Acontece que não quero mais isso, não quero mais olhar para trás, abrir os braços e ver você dando a mão e os abraços para outras pessoas. Não quero entender sempre o seu lado e nunca, nunca, nunca fazer ninguém entender o meu. 

Acontece que me livrar dessa obrigação de amizade acabada me deixou leve. Desculpa, é feio falar isso, não é? Eu sei. Mas deixou.

Que a gente vire recordação agora.

E fim. 

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