quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Vivendo de passado

Ele queria mergulhar o mais fundo que conseguisse. Sentir a dor e o prazer disso. 
Se esquecer de qualquer coisa comum, normal, ordinária. 
Queria esquecer o que já tinha vivido de ruim, fechar as feridas que ainda doiam no peito, fingir que tinha acontecido com um conhecido e não com ele. 
Mas não era tão fácil quanto desejava. Sentia que não tinha o controle de tudo e que por mais que tentasse, ia ser sempre assim. 
Parecia que o grande amor de sua vida já tinha passado, logo com ele que era tão jovem e tinha tanto ainda que ver. 
Tantos caminhos a percorrer, tantas mulheres para conhecer, tantas histórias para viver... Por que essa sensação de que a história principal já tinha acontecido? Por que era tão difícil não olhar para trás? O futuro estava a frente, não estava? Não tinha porquê ficar vivendo de lembranças, ficar se magoando dia após dia, e magoando quem quer que estivesse ao seu lado. 
Por que era tão fácil enxergar isso e tão difícil agir da forma certa? Por que não deixar o passado onde tinha que ficar, morto e enterrado e seguir experimentando tudo o que poderia? 
Queria entender. Queria resolver tudo isso, acabar com esse tormento, escutar qualquer música que fosse sem associá-la à ninguém, assistir filmes sem ver em cada cena algo que já tinha acontecido há tanto tempo atrás. 
Queria e decidiu que era aquilo que faria. Por mais que ainda doesse, por mais difícil que fosse tentar fechar as feridas e deixá-las cicatrizar, por mais impossível que parecesse confiar total e completamente em alguém de novo, estava disposto a tentar, nem que morresse tentando. 
Afinal, aquilo não poderia continuar assim, poderia? Ele tinha o direito de ser feliz tanto quanto qualquer outro. 
E seria. Um dia, sem que ele percebesse, ele se veria feliz e completo de novo.

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